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Verve 2016 Almost Poetic from Article19 on Vimeo.

Amanhã conta-se apenas mais um dia, mais um dia apenas porque o homem criou o calendário, vivendo nele, como um afogado, adormecido; ou sobrevivente de naufrágio, perdido e assustado; ou pescador, sonhado pelos que ficam e sonhador, pela ânsia de voltar e voltar com algo mais do que com que partiu. Viver no tempo, apesar do calendário, implica um pouco mais. Viver o tempo para além dos dias. Vivê-lo para além da vida que conhecemos. Vivê-lo com a loucura dos que são loucos apenas porque confiam, acreditam, têm esperanças, apenas porque abensonham a vida. Vivem o adormecimento, vivem a perda, vivem o sonho, mas são para além disto. São loucos e fazem acontecer o tempo. São os ponteiros da sua vida. São os ponteiros na vida daqueles que já perderam a coragem de contar o tempo.

Para 2017, para amanhã, o único desejo é o de que sejamos um pouco este louco, embriagado pela vida. Que o louco substitua o irracional, o insensato, o tolo, o culpado, o moralista, o indiferente, o torpe, o acusado e o acusador, o infame, o vil. Estes são homens de calendário, das suas guerras, dos seus moralismos, das políticas de cada dia, de tudo quanto é seu e não pertence a mais ninguém. Aprendamos a viver o tempo. "Há um tempo para cada coisa" e o tempo da guerra tem que dar tempo ao tempo da paz. Sejamos suficientemente loucos, pelo menos, por e para isto! Pelo menos a paz! Nesse tempo cabemos todos.

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